Ao longo dos anos, eu tenho defendido que a maioria dos condutores da Grã-Bretanha é muito boa. Os números apoiam esta teoria, visto que temos uma das menores taxas de mortes e feridos do mundo. Mas, recentemente, não tem sido assim.
Obviamente, não somos tão maus como os gregos, que ainda, depois de cem anos de prática, ainda não têm a certeza do lado da estrada que devem usar, ou os italianos, que têm exactamente o mesmo código da estrada que nós. Excepto as distâncias de travagem serem todas cotadas em centímetros.
Depois há os Portugueses, para quem conduzir é tão perigoso como injectar estricnina directamente no fígado. Se for a uma loja para comprar um pão, a probabilidade de chegar a casa morto é de 100%.
No entanto, eu ainda insisto que os americanos são os piores condutores do mundo, devido principalmente à sua agressividade. Podemos estar na faixa do meio de uma auto-estrada muito movimentada, e ninguém vai deixar-nos mudar para a faixa da direita, mesmo que seja perfeitamente óbvio que desejamos sair na próxima saída. Pudemos dar o pisca, implorar, suplicar e, depois, quando a saída está muito próxima, somos forçados a agir. E isto provoca sempre uma enxurrada de gestos obscenos, buzinadelas e – na maioria das vezes – tiros de metralhadoras.
Esse tipo de coisa está a acontecer na Grã-Bretanha agora. E para piorar as coisas, parece que ninguém sabe, mesmo que de forma rudimentar, o código da estrada. Se alguém estiver a andar a 120 km/h, essa pessoa pensa que tem direito a ficar na faixa da esquerda por toda a viagem. Podemos piscar as luzes e buzinar e fazer caretas, mas não adianta. Essa pessoa simplesmente não sabe que está a fazer algo errado.
Fora da auto-estrada, a ultrapassagem é vista como um crime comparável ao genocídio e à violação. Eu não vejo nenhum problema se quiser passear por aí a 60 km/h,. Então, porque ficam irritados se eu quiser ultrapassá-los? Isso não magoa ninguém, então porque piscam suas luzes e gesticulam contra mim?
Os problemas estão em todo o lado. As rotundas duplas nos centros das cidades deixam as pessoas num estado de esquizofrenia, o que significa que elas não se podem se mover durante várias horas. As pessoas puxam o travão-de-mão enquanto esperam nos semáforos, o que significa que quando acender o verde, elas perderam um nanosegundo a destravar o carro. Nos postos de gasolina, existe uma lacuna de exactamente uma hora desde que alguém entra no seu carro e vai embora. Nos estacionamentos, as pessoas ficam confusas até mesmo com a vaga mais espaçosa. Mas isto não foi sempre assim. Então, o que está a correr mal?
O Daily Mail culparia os imigrantes, como é óbvio, dizendo que quem aprende a conduzir num boi não se consegue adaptar a um Camry de £200. Mas não existem imigrantes onde eu vivo e, o problema tem as mesmas proporções. Por isso, não adianta culpar a imigração.
Os idosos? Bom, sim. A minha mãe passa a vida a contar-me histórias de vários amigos seus que passam a maior parte das suas vidas a ir contra tudo. Mas novamente estamos a falar de uma minoria.
Para tentar chegar à raiz do problema, eu examinei como o problema muda de uns dias para os outros e concebi uma teoria. Nas tardes de Terça-Feira, tudo está bem, enquanto que nas tardes de Sábado, está tudo mal. E numa Segunda-Feira de feriado bancário, é um pesadelo. Este, como é óbvio, é o tempo em as pessoas se ocupam com os seus passatempos.
Como sabemos, passatempos são para o James May e para pessoas que foram apanhadas a “brincar consigo próprias” pelas suas mães quando eram mais novas. Por isso, decidem ir pescar. É melhor pensar nisso na próxima vez que estiver a passear pela margem de um rio. Todos os que têm uma vara na mão já foram apanhados pelas suas mães com um tipo diferente de vara nas mãos…
Enfim, no passado, os passatempos eram coisas simples que exigiam pouquíssimo equipamento e podiam ser apreciados numa cabana no fundo do nosso jardim. E nada de mal nisso. Esculpir paus não incomoda ninguém. O mesmo se passa com o cultivo de salsa e outras ervas.
Mas agora, os passatempos envolvem faixas e cordas e capacetes. As pessoas praticam montanhismo e zorbing e parasailing e rappel e caminhar e surf e mergulho em penhascos e mountain biking e canoagem e planadorismo e andam a cavalo e todas estas coisas requerem uma tonelada de coisas.
Isso significa reboques e bagagens no tecto e, isso significa conduzir mais devagar e com mais cuidado do que o normal. Quando vamos trabalhar numa terça-feira, conduzimos de uma maneira muito diferente de quando estamos a rebocar o nosso cavalo para uma competição num feriado bancário.
Assim quando vamos comprar leite, somos condutores britânicos normais e conservadores. Habilidosos, pacientes e ágeis. Mas quando estamos a ir para Sulton Bank a rebocar uma asa-delta, estamos praticamente a conduzir um comboio de estrada australiano. Isto torna-nos muito cautelosos e precavidos. E pessoas cautelosas e precavidas são indecisas.
Hoje de manhã, eu fui até um mercado local e na viagem de 8 quilómetros, fiquei preso atrás de um reboque para cavalos durante 5 quilómetros e, depois de o ter ultrapassado, fiquei preso no que parecia ser uma corrida de longa-duração de bicicletas. A rede de estradas, então, nunca mais um sistema de vias usada para manter a nação em movimento. É um brinquedo, para quem costumava ver revistas da Penthouse.
E há mais. Não é possível voar numa asa-delta no nosso jardim, ou praticar zorbing ou surfar. Todas estas coisas requerem um terreno apropriado e, este terreno apropriado normalmente está a centenas de quilómetros de onde vivemos. Por isso, as pessoas cautelosas e precavidas estão por toda parte, a sair dos subúrbios para um penhasco, ou algum mar, com um carro cheio de equipamentos caros que irão estragar-se se caírem do banco traseiro. É como conduzir com um ensopado no porta-bagagens. Nunca pudemos andar depressa, e ficamos muito irritados quando alguém nos obriga travar ou virar.
Precisamos fazer alguma coisa para resolver o problema, e eu acho que tenho uma ideia. Os passatempos devem ser taxados dependendo do tamanho do equipamento necessário para mesmo. Por isso, quem cultivar agrião em laguinhos no seu jardim pagará cêntimos. O mesmo para fãs de quebra-cabeças e jogadores de cartas. A taxa básica também devia ser cobrada aos pescadores, a não ser que comprem um barco de 20 metros com uma “fighting chair” atrás. Neste caso, seriam apertados. Andar a cavalo, naturalmente, seria proibido. E o James May também devia saber que sair de Londres para mexer no seu avião custará cerca de £100 000 por semana. E se ele decidir voar sobre minha casa, e fizer barulho num belo dia de verão, a penalidade será pior. Eu irei abatê-lo a tiro.
Pensem nisso, se quiserem, como “taxar os punheteiros”. Acho que vai ser muito popular.