terça-feira, 30 de agosto de 2011

Clarkson sobre passatempos

Ao longo dos anos, eu tenho defendido que a maioria dos condutores da Grã-Bretanha é muito boa. Os números apoiam esta teoria, visto que temos uma das menores taxas de mortes e feridos do mundo. Mas, recentemente, não tem sido assim.
Obviamente, não somos tão maus como os gregos, que ainda, depois de cem anos de prática, ainda não têm a certeza do lado da estrada que devem usar, ou os italianos, que têm exactamente o mesmo código da estrada que nós. Excepto as distâncias de travagem serem todas cotadas em centímetros.
Depois há os Portugueses, para quem conduzir é tão perigoso como injectar estricnina directamente no fígado. Se for a uma loja para comprar um pão, a probabilidade de chegar a casa morto é de 100%.
No entanto, eu ainda insisto que os americanos são os piores condutores do mundo, devido principalmente à sua agressividade. Podemos estar na faixa do meio de uma auto-estrada muito movimentada, e ninguém vai deixar-nos mudar para a faixa da direita, mesmo que seja perfeitamente óbvio que desejamos sair na próxima saída. Pudemos dar o pisca, implorar, suplicar e, depois, quando a saída está muito próxima, somos forçados a agir. E isto provoca sempre uma enxurrada de gestos obscenos, buzinadelas e – na maioria das vezes – tiros de metralhadoras.
Esse tipo de coisa está a acontecer na Grã-Bretanha agora. E para piorar as coisas, parece que ninguém sabe, mesmo que de forma rudimentar, o código da estrada. Se alguém estiver a andar a 120 km/h, essa pessoa pensa que tem direito a ficar na faixa da esquerda por toda a viagem. Podemos piscar as luzes e buzinar e fazer caretas, mas não adianta. Essa pessoa simplesmente não sabe que está a fazer algo errado.
Fora da auto-estrada, a ultrapassagem é vista como um crime comparável ao genocídio e à violação. Eu não vejo nenhum problema se quiser passear por aí a 60 km/h,. Então, porque ficam irritados se eu quiser ultrapassá-los? Isso não magoa ninguém, então porque piscam suas luzes e gesticulam contra mim?
Os problemas estão em todo o lado. As rotundas duplas nos centros das cidades deixam as pessoas num estado de esquizofrenia, o que significa que elas não se podem se mover durante várias horas. As pessoas puxam o travão-de-mão enquanto esperam nos semáforos, o que significa que quando acender o verde, elas perderam um nanosegundo a destravar o carro. Nos postos de gasolina, existe uma lacuna de exactamente uma hora desde que alguém entra no seu carro e vai embora. Nos estacionamentos, as pessoas ficam confusas até mesmo com a vaga mais espaçosa. Mas isto não foi sempre assim. Então, o que está a correr mal?
O Daily Mail culparia os imigrantes, como é óbvio, dizendo que quem aprende a conduzir num boi não se consegue adaptar a um Camry de £200. Mas não existem imigrantes onde eu vivo e, o problema tem as mesmas proporções. Por isso, não adianta culpar a imigração.
Os idosos? Bom, sim. A minha mãe passa a vida a contar-me histórias de vários amigos seus que passam a maior parte das suas vidas a ir contra tudo. Mas novamente estamos a falar de uma minoria.
Para tentar chegar à raiz do problema, eu examinei como o problema muda de uns dias para os outros e concebi uma teoria. Nas tardes de Terça-Feira, tudo está bem, enquanto que nas tardes de Sábado, está tudo mal. E numa Segunda-Feira de feriado bancário, é um pesadelo. Este, como é óbvio, é o tempo em as pessoas se ocupam com os seus passatempos.
Como sabemos, passatempos são para o James May e para pessoas que foram apanhadas a “brincar consigo próprias” pelas suas mães quando eram mais novas. Por isso, decidem ir pescar. É melhor pensar nisso na próxima vez que estiver a passear pela margem de um rio. Todos os que têm uma vara na mão já foram apanhados pelas suas mães com um tipo diferente de vara nas mãos…
Enfim, no passado, os passatempos eram coisas simples que exigiam pouquíssimo equipamento e podiam ser apreciados numa cabana no fundo do nosso jardim. E nada de mal nisso. Esculpir paus não incomoda ninguém. O mesmo se passa com o cultivo de salsa e outras ervas.
Mas agora, os passatempos envolvem faixas e cordas e capacetes. As pessoas praticam montanhismo e zorbing e parasailing e rappel e caminhar e surf e mergulho em penhascos e mountain biking e canoagem e planadorismo e andam a cavalo e todas estas coisas requerem uma tonelada de coisas.
Isso significa reboques e bagagens no tecto e, isso significa conduzir mais devagar e com mais cuidado do que o normal. Quando vamos trabalhar numa terça-feira, conduzimos de uma maneira muito diferente de quando estamos a rebocar o nosso cavalo para uma competição num feriado bancário.
Assim quando vamos comprar leite, somos condutores britânicos normais e conservadores. Habilidosos, pacientes e ágeis. Mas quando estamos a ir para Sulton Bank a rebocar uma asa-delta, estamos praticamente a conduzir um comboio de estrada australiano. Isto torna-nos muito cautelosos e precavidos. E pessoas cautelosas e precavidas são indecisas.
Hoje de manhã, eu fui até um mercado local e na viagem de 8 quilómetros, fiquei preso atrás de um reboque para cavalos durante 5 quilómetros e, depois de o ter ultrapassado, fiquei preso no que parecia ser uma corrida de longa-duração de bicicletas. A rede de estradas, então, nunca mais um sistema de vias usada para manter a nação em movimento. É um brinquedo, para quem costumava ver revistas da Penthouse.
E há mais. Não é possível voar numa asa-delta no nosso jardim, ou praticar zorbing ou surfar. Todas estas coisas requerem um terreno apropriado e, este terreno apropriado normalmente está a centenas de quilómetros de onde vivemos. Por isso, as pessoas cautelosas e precavidas estão por toda parte, a sair dos subúrbios para um penhasco, ou algum mar, com um carro cheio de equipamentos caros que irão estragar-se se caírem do banco traseiro. É como conduzir com um ensopado no porta-bagagens. Nunca pudemos andar depressa, e ficamos muito irritados quando alguém nos obriga travar ou virar.
Precisamos fazer alguma coisa para resolver o problema, e eu acho que tenho uma ideia. Os passatempos devem ser taxados dependendo do tamanho do equipamento necessário para mesmo. Por isso, quem cultivar agrião em laguinhos no seu jardim pagará cêntimos. O mesmo para fãs de quebra-cabeças e jogadores de cartas. A taxa básica também devia ser cobrada aos pescadores, a não ser que comprem um barco de 20 metros com uma “fighting chair” atrás. Neste caso, seriam apertados. Andar a cavalo, naturalmente, seria proibido. E o James May também devia saber que sair de Londres para mexer no seu avião custará cerca de £100 000 por semana. E se ele decidir voar sobre minha casa, e fizer barulho num belo dia de verão, a penalidade será pior. Eu irei abatê-lo a tiro.
Pensem nisso, se quiserem, como “taxar os punheteiros”. Acho que vai ser muito popular.


segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Clarkson sobre salvar o planeta

Todos sabemos que devem ser feitos sacrifícios a fim de salvar o planeta. Onde a maioria não concorda é no que deve ser sacrificado e no que deve ser salvo...
Eu ainda não conduzi o Lamborghini Aventador. Mas foi-me dito pelos meus colegas, e ambos o conduziram, que algum do brilho que se encontrava nos Lamborghinis do passado está em falta. E quando eu digo “brilho”, o que quero dizer, como é óbvio, é “terror absoluto”.
Vemos um problema semelhante com o McLaren “aparelho de fax”. Do ponto de vista tecnológico é sublime. Mas é o único carro que eu conduzi que é mais divertido de conduzir com o controlo de tracção ligado. Em parte, isso acontece porque o sistema de tracção é brilhante, e em parte é porque o resto do carro não parece ter tanta tendência para derrapar durante todo o correr de uma curva, com fumo a sair dos pneus. Conduzir assim um MP4-12C? É como vestir um fato e uma gravata e depois ir fazer rafting.
Mais abaixo na cadeia alimentar, chegamos ao Audi RS3. Este é um rocket com um motor de cinco cilindros sobrealimentado que é colado à estrada pelas quatro rodas. Em teoria, então, devia ser semelhante ao seu avô, o Quattro. Mas não é. O Quattro – especialmente com o motor com 20 válvulas de segunda-geração – foi um dos carros mais excitantes das estradas da altura. Nós olhávamos quando um passava. Mas e o RS3? Não. É visto como um pelintra. Ficamos com a impressão que ele gostava de ser bege e que seu programa de TV favorito é o Countdown.
O meu último exemplo disso é o Nissan GT-R. Sim. Graças ao Launch Control, um notável programa de computador, a sua capacidade de arrancar rapidamente é surpreendente. E, se não estivermos preparados, muito dolorosa. E da mesma forma, a sua velocidade e suas garras nas curvas é notável. Como resultado, é quilómetros mais rápido do que o CLK Black Edition que eu conduzo todos os dias. E mais. Ficamos com a impressão que se o Nissan fosse nossa namorada, que iria aparecer nos encontros com calças do tamanho de uma vela de um veleiro. Enquanto o Mercedes iria aparecer sempre sem roupa interior.
Agora, obviamente, as construtoras de automóveis como a Audi e a Lamborghini (que são a mesma coisa), a Nissan e a McLaren sabem que quem deseja comprar um carro rápido gosta de excitação. Mas eles parecem estar a dar cabo disso. Porquê?
Porque terá a BMW colocado um motor sobrealimentado no série 1 M Coupé? Claro, este é um motor sobrealimentado muito bem-pensado com um tipo de falha que não é detectável pelo pé humano, mesmo quando se está em sexta velocidade a andar apenas a 40 km/h. Mas nós sabemos que a falha está lá, mesmo que não pareça. A BMW também sabe disso.
Então, porque terão eles usado a mesma tecnologia do próximo M5? Eles sabem, assim como vocês e eu, que um motor naturalmente aspirado vai desenvolver um imediatismo e um formigueiro que um motor sobrealimentado não consegue. Um motor sobrealimentado é propulsionado por bruxaria. E isso leva tempo.
Então, o que se está a passar? Bem, podem ficar surpreendidos ao descobrir que a razão principal é o sapo marsupial, ou seja proteger a Assa darlingtoni. Esta vive no alto das montanhas em algum lugar sombrio, e põe os seus ovos nas nuvens, onde há humidade suficiente para garantir uma chocagem bem-sucedida.
No entanto, nos últimos anos as nuvens começaram a sentar-se acima das montanhas e agora os cientistas e os eco-alarmistas dizem que por isso a Assa darlingtoni está em vias de extinção. Que os seus bebés nascem e morrem de asfixia em instantes. E dizem que só há uma maneira de parar isto: o próximo M5 tem de ser sobrealimentado.
E mais, se a foca-monge do Mediterrâneo está a ter a oportunidade de o completar até à próxima terça-feira, o RS3 Audi deve ter asas frontais em fibra carbono. Da mesma forma, a lagartixa-leopardo que tem olhos laranja e vive pelo Mekongna na China, só pode esperar sobreviver se a AMG substituir a caixas de velocidades automáticas montadas nos Mercedes rápidos do passado e mude extensivamente para as de dupla embraiagem.
Eu não posso fingir que compreendo o porquê de uma caixa de velocidades de dupla embraiagem ser mais ecológica do que uma automática normal, e quando eu pedi ao James May para me explicar, eu tenho vergonha de dizer que adormeci. Mas é, e actualmente tudo o que reduz a quantidade de CO2 proveniente do escape de um carro é aceite da mesma forma que um explorador do deserto aceitaria uma cerveja depois de uma viagem por todo o Sahara.
E isso é chato, porque enquanto uma caixa de dupla embraiagem funciona muito bem num circuito de corridas e numa estrada aberta, é chata e inútil no trânsito. Porque não se obtém o apoio de uma verdadeira manual ou a fluência de uma automática, é sempre irregular. E notavelmente lenta a responder quando se está a andar a 5 km/h num engarrafamento na auto-estrada, e se quisermos mudar de faixa... esperar por ela... aguardar... um momento... AGORA.
Não vai estar preparada, e quando estiver preparada, a pessoa que se está a aproximar vai perceber o que estávamos a tentar fazer e que não conseguimos. Está, portanto, preso pelas limitações de uma caixa DSG. Somos reféns para o bem-estar do panda gigante.
Os governos estão a fazer de tudo para piorar as coisas. Num minuto, eles estabelecem metas de ecológicas impossíveis às quais os fabricantes de automóveis não conseguem responder e, quando as montadoras param de ganir e parecem estar a chegar a algum lugar, introduzem uma legislação ainda mais difícil de alcançar. Nós tínhamos apenas de nos acostumarmos à legislação de emissões Euro IV, e agora temos a V. Quando acabarem de ler esta revista, nós já vamos estar na VIII e, a máquina mais rápida na sua garagem vai ser o seu cortador de relva velho.
Claro, todos nós já aceitamos. Sabemos que pouco a pouco os desempenhos dos carros serão revistos, de modo a que sabiamente quando confrontados com o que os factos chamam de razão, digamos que entendemos a necessidade de fazer xixi na velocidade.
Mas eu pergunto-me se alguém realmente parou por um momento e perguntou porquê.
Eu sou um observador de pássaros. Não me envergonho disso. Passei uma hora muito agradável esta manhã, com meu estômago na erva longa a ver alguns corvos marinhos. Estou à espera desta noite para ver gansos-patolas e fazer um local de pesca de mergulho.
Mas qual é que prefiro ... o falcão-peregrino  – o meu pássaro favorito - ou o Ferrari 458? Receio que a resposta é o carro.
Claro, os eco-alarmistas dizem que o carro pode ser colocado num museu e visto pelas gerações futuras. Mas desculpem. Por que não colocar a ave num museu? E o tigre? E o golfinho Irrawaddy? Porque estamos nós a andar para trás para salvar algumas espécies que não servem para nada, que nunca ninguém vai ver e que não contribuem para nada?
Nós gostamos do Concorde. Gostamos do Space Shuttle. Nós gostamos de rápido, emocionante, carros dinâmicos e estamos a dar tudo para salvar alguns besouros e sapos que são chatos, feios, inúteis e repugnantes. Se existe alguma coisa como Deus, eu aposto que ele está sentado numa nuvem, agora, a questionar-se se, talvez, a sua melhor espécie não tenha ficado completamente maluca.