sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Clarkson sobre adopção


Chamem-me desmancha-prazeres, mas estou feliz por o meu pai não ter sido uma lésbica
Quando se trata de fazer generalizações, eu sou o maior. Nenhum alemão tem sentido de humor, todos os manuais de instruções são inúteis, todos os navios transatlânticos são enormes, todos os americanos são gordos, todos os golfistas são chatos e todos os Peugeots são conduzidos por pessoas com as quais não se quer jantar.
Claro que estou ciente de que a maioria das generalizações não fazem sentido. Conheço muitos alemães engraçados, e “Obama Barrack” até que é bem magrinho. Mas sem generalizações, as anedotas duravam dois anos, os objectivos não seriam atingidos, a comédia sofreria e toda a gente parecer-se-ia com o James May: “Na verdade, 42.7% dos manuais de instrução são bem úteis; mas primeiro, deixe-me quantificar ‘útil’…”
A vida seria terrivelmente melancólica se todos os factos tivessem de ser precisos. Mas, dito isto, as generalizações não têm lugar em pesquisas científicas sérias e, por isso, fiquei um pouco alarmado ao ler, na semana passada, que um conselheiro governamental da National Academy for Parenting Practitioners disse que as lésbicas são melhores pais do que aquilo a que nunca mais vamos poder chamar de “casais normais”.
Não me parece que isto esteja correcto, porque, tanto quanto me consigo lembrar, uma mulher não pode ter um filho após ter relações sexuais com outra mulher. A não ser que essa mulher seja de uma equipa de atletismo.
Para que um casal de lésbicas tenha um filho, em vez dos perus entrecascados estarem envolvidos – e muita gente não quer imaginar que veio ao mundo dessa forma – deve ter visitado a British Association for Adoption & Fostering financiada pelo governo, que pensa que alguém que se oponha aos pais de mesmo sexo é um “homofóbico retardado”.
Felizmente, sou um pouco mais sensato do que isso. Eu não acho que alguém que se opõe aos pais homossexuais seja um homofóbico retardado. Acredito que eles têm uma opinião. Mas, dito isto, eu enfaticamente não concordo que as lésbicas sejam necessariamente melhores pais do que eu. É impossível dizer que uma pessoa educará os filhos melhor porque gosta de outras mulheres. Haveria algumas lésbicas que saiam a noite inteira e que se drogariam e algumas que leriam uma história a uma criança para ela adormecer e seriam excelentes mães.
Eu fiz uma pesquisa, e a única evidência que consigo encontrar vem de uma pesquisa sancionada pela própria National Academy. O estudo examinou crianças criadas por apenas 27 mães solteiras, 20 casais lésbicos e 36… er… pais com genitais diferentes e concluiu que as crianças criadas por mulheres cresceram com uma melhor saúde psicológica.
Não é possível tirar qualquer conclusão com 20 lésbicas. Vendo 20 italianos, poderiamos acabar a pensar que a nação inteira está cheia de cretinos calmos e incorruptíveis que não se interessam por sexo. Verificando a temperatura num período de apenas 20 anos, acaba-se a pensar que o clima mundial esta a mudar.
Eu gosto de lésbicas, principalmente as que usam stockings que se encontram na internet. Obviamente, eu acho que mais mulheres deveriam experimentar o lesbianismo. Seria óptimo. Mas, pessoalmente, e por favor não me chamem homofóbico retardado, não me parece que teria sido muito feliz se a minha mãe fosse lésbica.
Eu gosto de imaginar que a Angelina Jolie e a Charlize Theron às vezes se divertem debaixo dos lençóis. Mas a minha mãe e a Peggy, do clube de ténis? Não. E a noção de que a Peggy do clube de ténis poderia ser um pai melhor do que meu próprio pai é cómica. Quase tão cómica, na verdade, como a notícia alarmante que o país tem uma academia especializada em cuidados paternais e maternais.
Todos nós achamos que a maneira como educamos nossos filhos está correta e, a maneira como os outros educam os seus está completamente errada. Os outros são demasiado rigorosos. Demasiado ambíguos. Demasiado fechados. Demasiado heterossexuais. Ninguém é tão bom como nós.
E esse é o problema. Educar uma criança é uma coisa pessoal, e não há espaço no debate entre natureza e criação para um bando de malucos com cabelo frisado a correr por aí, a fazer declarações políticas às nossas custas sobre lésbicas. Se o governo está a querer cortar gastos, devia pensar muito em desmantelar uma organização que diz às pessoas o que dizer aos pais.
Há muitas coisas que preciso saber e não sei. Como entrar em contacto com alguém no Facebook. Como chegar até Bournemouth quando a via principal está fechada para remoção de minhocas. Se o governo desse conselhos sobre essas coisas, seria maravilhoso. Em vez disso, diz-me a que horas a minha filha tem que ir para cama e o que ela deve comer ao pequeno-almoço. E como ela se tornaria um ser humano mais equilibrado se minha esposa convidasse uma amiga para passar a noite e vestisse algo transparente.
Sim, existem mulheres gordas no norte do país que precisam ouvir que seus filhos não podem faltar à escola e experimentar metanfetamina até aos 8 anos, pelo menos. Mas nós já temos uma organização que lida com este tipo de coisa: chama-se polícia.
E se a polícia não pode ajudar, nós temos outra. Ela se chama assistência social. As assistentes sociais chegariam. Se notassem que uma criança se entupiu de heroína e está toda coberta com vómito, e a colocavam-na numa instituição. Não é preciso uma academia nacional para dizer em qual tipo de instituição a criança deve ficar, porque isso é demasiado óbvio até para alguém com meio cérebro.
Este é o problema com o qual nos deparamos. Não gosto da ideia de que lésbicas, mesmo as maiores e esquisitas e que vestem macacões, não possam adoptar um bebé. Elas cresceram com uma predilecção por membros do mesmo grupo genital mas, isso não as impede de serem óptimas mães.
Banir uma lésbica de ser mãe seria tão cruel como banir alguém porque gosta de golfe, algo que eu tinha feito se estivesse no poder. Ou porque tem cabelo ruivo. No entanto, eu acho que devemos pensar nas crianças. Ter duas mães, quer gostemos ou quer não, irá causar uma certa estranheza. Mas este é apenas meu ponto de vista e eu sou apenas um pai. Que sei sobre isso?

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