sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Clarkson sobre a gasolina

Como tenho uma filha adolescente, a televisão em minha casa está quase sempre ligada num canal com clipes de música, onde uma selecção de garotos a usar calças estúpidas que dizem aos seus fãs para se dedicarem à jardinagem. É uma sucessão de instruções para “matar um porco” e para “cavar com uma enxada”.
O curioso é que parece que há muito pouca jardinagem nos vídeos, mas há muitos carros. E há uma coisa que eu percebi. Os gajos com calças enormes e que se paressem com sacos conduzem incrivelmente devagar. Mais devagar do que o Percy Thrower, que, como é óbvio, está morto.
É algo perturbador. Não existiam estes clipes musicais quando eu era jovem, mas eu tenho certeza que, se o Led Zeppelin fizesse algo deste género, e estivessem inclinados para expor um carro – o que era improvável – eles não teriam andado a 20 km/h.
Verdadeiras estrelas de Rock que realmente sabiam tocar um instrumento tinham Ferraris e conduziam-nos a velocidades absurdas, normalmente em direcção a uma piscina. E era uma histórias semelhante com as personagens dos filmes. James Dean não andava a 20 km/h quando atingiu o Sr. Turnipspeed. E o Steve McQueen não passeava tranquilamente por São Francisco. Ele voava. Literalmente. A velocidade era boa. A velocidade funcionava.
Quando eu era jovem, todos nós queríamos andar depressa. Conduzir rápido, fazer curvas com o travão-de-mão e queimar borracha quando o semáforo verde acendia: nenhuma dessas coisas provou ser capaz de conquistar o coração de uma rapariga, mas sabíamos pela forma como se riam que elas nos adoravam por isso. Elas achavam que éramos homens de verdade. Então nós íamos cada vez mais rápido, até bater.
A velocidade máxima de um carro significava tudo. Todo mundo tinha um conhecido chamado Kev que tinha um Fiesta que chegava aos 240 km/h. Todos nós tínhamos histórias sobre vencer um Porsche 911 Turbo na Ring Road. E as luzes dos semáforos não eram sinais para ajudar o trânsito a fluir de manhã. Eram luzes de partida. Vermelho: acelera. Amarelo: acelera mais. Verde: solta a embraiagem. Na minha cabeça, este era o Código da Estrada da época.
Na primeira vez que fui parado pela polícia por excesso de velocidade – o que era muito raro de acontecer – eu fiquei com tanta vergonha de estar a apenas 140 km/h que disse aos meus amigos que ia a 190. E mesmo assim eles não ficaram impressionados porque, como sabemos, todos conheciam um sujeito chamado Kev que tinha um Fiesta que chegava aos 240.
Nesta altura devem estar à espera que eu diga a todos os jovens de hoje em dia para largarem os seus capacetes de bicicleta e os seus coletes de segurança fluorescentes e darem uma maldita aceleradela. Mas receio que isso não faça qualquer sentido. Porque é algo impossível.
Não são a saúde e a segurança que os estão a travar. Os jovens não são programados para entrar na água na ponta dos pés quando podem mergulhar de cabeça. E também não são estereótipos da MTV ou lá como se chama aquele canal hoje em dia. Se os jovens realmente ouvissem o que esse pessoal tem a dizer, estavam na horta, a criar porcos e a plantar vegetais. Mas não estão.
Também não é culpa da guerra incansável dos governos contra a velocidade ou do Jonathan Porridge a proclamar aos quatro ventos que crosta polar está a derreter, porque sabemos que este ano o volume de gelo polar aumentou drasticamente.
Não. O verdadeiro motivo pelo qual os gajos nos vídeos de música – e no mundo real – já não andam depressa é o preço da gasolina. É simplesmente demasiado cara.
E não são só os jovens. Os pilotos da Fórmula 1 andam devagar –dizem eles – para economizar pneus. Mas isso não faz qualquer sentido. É porque a Vodafone não consegue pagar o combustível. Recentemente, o produtor do Top Gear levou um Range Rover aos Alpes para passar uma semana inclinado e voltou falido pela sede do V8.
Sei o suficiente sobre a economia para saber que existe uma coisa chamada inflação. Mas, a questão é que a inflação não é o único motivo pelo qual eu conseguia encher o depósito do meu carro com 3 libras, e agora preciso de 120. Ir a Londres e voltar no Mercedes custa-me 50 libras. Isso sem as taxas, que somam 100 libras. Isso dá 500 libras por semana. E isso dá 25 mil libras por ano. O que é mais do que a renda média anual no país.
Portanto, é por isso que os jovens andam devagar agora. Porque embora eles agora possam conseguir música de graça, não se pode fazer download de creme para espinhas ou vodka pela Internet e, por isso, não sobra nada para se poderem dar ao luxo de queimar um litro de gasolina ao arrancar num semáforo verde.
Suponho, para ser sincero, que não são apenas os jovens. O mesmo se aplica aos aposentados e famílias. Todos, na verdade, excepto o Elton John. É um luxo que poucos podem pagar, e acho que é hora de os fabricantes de automóveis tomarem uma atitude quanto a isso.
Muitos dirão, a essa altura, que elas já o fizeram. A Mercedes se uniu à Renault e à Nissan para desenvolver uma nova linha de carros pequenos. Estão tentando enfiar a todo custo um motor eléctrico no Mini, e todos estão ocupados a desenvolver carros híbridos. Mas eles estão a esquecer-se de uma coisa. Estão a tentar igualar o preço da compra de um carro aos custos para mantê-lo, e essas coisas nem sempre andam juntas.
Não me importo em comprar um carro caro, mas importo-me por ficar a olhar para o visor digital da bomba de combustível a acabar com o saldo do meu cartão de crédito por um tanque cheio de algo que eu nem posso ver. E aí eu questiono-me se, nestes tempos difíceis, talvez alguém na indústria automóvel possa aproveitar alguns detalhes do Renault 5 Monaco.
Ele era, como devem imaginar, um Renault 5, o que significa que era um carro pequeno e económico. Mas por dentro, tinha vidros eléctricos – raridade na época -, direcção assistida, luxuosos bancos em pele e um sistema de som decente. Era, por outras palavras, um pequeno carro de luxo. Será que algo assim está fora de questão hoje em dia?
Quando as fabricantes pensam pequeno, elas pensam barato. E, por isso, elas o calçam com pneus finos e uma suspensão feita de papel alumínio e as peças do interior fixas com presilhas em vez de parafusos. Mas e se, digamos, a Mercedes aplicasse exactamente os mesmos princípios que usa para fazer um Classe S a um Smart?
Tenho certeza que se tivesse Cruise Control controlado por radar e um kit mãos livres e um sistema de som da Bang & Olufsen e bancos macios como uma mulher gorda, seria um carro caro. E as fabricantes diriam que ninguém pagaria 40 mil libras por um Smart. Mas por que não?
Eu particularmente não quero um carro caro. Não preciso de amplo espaço interno, e eu realmente não gosto das despesas com combustível. Mas não quero um carro pequeno no momento porque eles são todos como refrigerantes de cola genéricos: imitações baratas do verdadeiro. O que eu queria mesmo – e suspeito que não seja o único a pensar assim – é um carro pequeno e económico que seja construído e equipado como um carro grande. Um Phaeton com um fato Golf, por exemplo. Ou um Freelander com absolutamente tudo que se pode ter num Vogue SE. Ou, melhor ainda, um Fiat 500 que pareça um Maserati Quattroporte.
Não acredito que algo assim seja impossível, e acho que as margens de lucro para as fabricantes seriam bem vantajosas. Por isso elas ganhavam dinheiro. E eu economizava na estação de serviço. Acho que é isso que nos ocorre quando fazemos 50 anos, algo que eu fiz no mês passado: visão e sabedoria.

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