sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

James sobre as caixas de velocidades


Talvez não queira ouvir isto, mas o motor do seu carro é uma porcaria. Não quero saber qual é, é apenas um monte de parafusos. Se ele tivesse tomates, não precisava de uma caixa de velocidades.
Vamos considerar que conduz um carro médio familiar. O motor talvez tenha um binário de 190 N.m . Parece muito? Ele faz uma tonelada de carro andar a mais de 160 km/h, então deve ser muito.
Mas se já montou um motor de carro com uma chave de binário, saberá que o braço humano pode produzir 190 N.m facilmente. Eu sei que posso, então isso mostra como essa coisa chamada de “motor” é apática. É mais fraca que eu.
É por isso que ele precisa de uma caixa de velocidades. Sem me querer aprofundar na física da coisa, a caixa de velocidades é, na verdade, um multiplicador de binário. A primeira velocidade proporciona mais binário, à custa da velocidade, para superar a inércia do carro parado. Assim que estiver em movimento, dá para usar uma marcha mais alta com binário inferior, e por aí adiante. A caixa de velocidades é uma série de alavancas de comprimentos diferentes, mas com formato circular.
Mas quantas velocidades são necessárias? Bem, quando o Top Gear apareceu pela primeira vez, normalmente eram quatro, estava a começar a ser comum cinco. Hoje em dia, pode ter seis, mas às vezes tem mais. Podem ser sete ou oito.
Mas voltemos um pouco atrás no tempo. O Benz Patent-Motorwagen não tinha nenhuma velocidade. O Ford Modelo T tinha duas velocidades, e eram suficientes para mover a América. Nos anos 1940 e 1950, muitos carros tinham apenas três velocidades. A proliferação de velocidades é uma indicação do progresso do carro, ao que parece. Mas estou a começar a imaginar que é o contrário.
Porque os motores dos primeiros carros eram ainda mais frágeis do que os motores que conhecemos. Um motor a gasolina primitivo fornecia o binário máximo com uma velocidade. Enquanto refinamentos foram implementados, o binário espalhou-se ao longo do alcance da velocidade.
Primeiro vieram coisas como a ignição automática avançada e retardada, sendo que isso era o trabalho de uma pequena alavanca no volante. Mais tarde, vieram as válvulas com tempo de abertura variável. Mas recentemente, houve a adopção em massa da injecção de combustível e mapeamento da ignição controlado por computador. Todas essas coisas ajudaram a espalhar o binário utilizável por todo alcance de velocidade do motor, para tornar o carro mais maneável.
Agora, estamos numa era onde os escritores especializados em carros nos divertem com descrições como “um alcance de binário do tamanho de um cruzamento transversal de Norfolk”.
Então, a quantidade de velocidades que precisamos deveria estar a diminuir. Força mais utilizável e flexível deveria significar menos necessidade de lidar com incómodas relações de velocidades. Mas está a aumentar.
O engraçado é que acabei de fazer a barba. Normalmente, eu escolho aquelas coisas brancas e verdes descartáveis. Não me lembro como se chamam, mas dá para comprar um monte deles por poucas libras.
Mas aqui estou eu, num hotel, e esqueci-me de trazer uma lâmina comigo, por isso a recepção mandou-me uma. Francamente, estou chocado. Lembro-me de quando o primeiro aparelho com duas lâminas foi lançado. De novo, não me do nome da primeira, mas lembro-me de uma propaganda irreal que dizia: “A primeira lâmina faz corta bem, a segunda corta melhor ainda”.
Nesse caso, por que não usaram apenas a segunda lâmina? A primeira estava claramente a esquivar-se.
Mas este aparelho que me enviaram tem cinco lâminas. Que diabos estão a fazer?
Este aparelho é uma porcaria. A cabeça parece o convés do USS Nimitz, e não cabe naquela área complicada abaixo do meu nariz. Também tem uma bateria no cabo para fazê-lo vibrar. Porquê? É uma ferramenta de corte de precisão, e não quero que ele fique a balançar-me na cara como uma máquina de lavar roupa velha. Os montadores de armários não têm cinzeis vibratórios, e cirurgiões não usam bisturis vibratórios.
Eu sei o que se passou. Alguém lançou um aparelho com três lâminas e, depois alguém lançou um com quatro. Depois, veio o aparelho com cinco lâminas, e alguém achou que um aparelho de cinco lâminas precisava vibrar para uma maior sensação de satisfação ao barbear. Isto não irá acabar até que a cabeça da sua lâmina de barbear tenha o tamanho de uma talocha de pedreiro.
E a mesma coisa aconteceu com as caixas de velocidades. Sete ou oito marchas simplesmente não são necessárias. Seis já são demais para a maioria dos casos. É uma disputa infantil entre as montadoras, e isto está a irritar-me.
E isso torna-se um problema quando se trabalha num programa chamado de Top Gear (última velocidade). Ninguém sabe realmente qual é a velocidade.
Sabemos onde estamos com o Fifth Gear (5º velocidade).

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