sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Hammond sobre carros de mulher e carros de homem


Conduzir em pista, qualquer que seja o seu nível de capacidade, é tão excitante quanto perseguir um tigre que lhe roubou a carteira, e nós na TopGear temos a sorte de o fazer. Há uns meses, fomos convidados por Bernie Ecclestone para conduzir no circuito de F1 no Mónaco; e até para um aselha como eu, foi uma experiência espantosa. Sortudos como somos, já conduzimos em pistas um pouco por todo o mundo e em tudo, desde carros humildes a bólides de F1, e embora as capacidades de condução escondidas que eu possa ter se tenham revelado muitíssimo bem escondidas e pouco prováveis de aparecerem, posso dizer com toda a certeza que a experiência de conduzir num circuito, em qualquer carro, é magnífica. Mas também digo que uma volta num circuito não contém a riqueza, profundidade e variedade de revelações complexas que nos esperam numa ida às compras numa manhã de sábado.
Pedi emprestado o Fiat 500C da minha esposa para uma expedição às lojas em Cheltenham com as minhas duas filhas, e vi‑me no meio do assédio e intimidação constantes por parte dos outros condutores. Chatearam‑me pela traseira, passaram rente ao pequeno Fiat branco, travaram a fundo à minha frente e fizeram‑me sentir, no geral, como o miúdo que leva porrada dos outros no recreio. Um homem num Peugeot varreu‑me praticamente da estrada, já perto da cidade. Acabei por encostar à berma, desejoso de evitar um acidente com as duas miúdas no carro, e ele lá passou por mim. Ele era gordo, suava por todos os lados e vestia um polo rosa salmão com poucas fibras naturais. Até devia ter um emprego de responsabilidade. Uma senhora até poderia estar desejosa de casar com ele, apesar da corpulência e do suor. Talvez ele fosse engraçado. Mas tinha acabado de forçar um homem com as suas filhas a sair da estrada com o seu ataque imbecil. Desejei que lhe acontecessem coisas horríveis; nenhuma se terá concretizado, porque eram bastante especiais e teriam aparecido nos noticiários caso tivessem realmente acontecido.
Quando voltei a casa, perguntei à minha mulher se era importunada constantemente no Fiat. Ela respondeu que não. Ao que parece, a Mindy anda por aí no pequeno Fiat envolta numa bolha de felicidade, sem provocar ondas no lago viário. “Mas estás sempre a dizer que um camionista quase te empurrou para fora da estrada ou que um tipo numa carrinha se meteu mesmo à tua frente.” Mas isso é só no Range Rover. E parece que nunca aconteceu no 500.
Voltei a correr a manhã na minha cabeça, em busca de pistas. Os prevaricadores eram todos homens. E eram homens de um tipo específico: grandes, pouco cabelo, suados – muito másculos, portanto. Conduziam carrinhas, BMW, Mercedes ou Astras comerciais e Peugeot práticos. Eu também sou um homem, mas estava num pequeno Fiat branco com capota. E duas miúdas. E depois lembrei‑me de todas as vezes que passei na estrada para Cheltenham sem atrair aquele tipo de atenção. Estava no Range Rover ou noutro carro grande qualquer, desportivo ou agressivo. Aqui está a resposta: os condutores estavam a responder ao cenário completo. Um homem num carro de homem: tudo bem. Uma mulher num carro de mulher: não há crise. Mas um homem num carro de mulher desperta um alarme dentro deles, e transformam‑se em cães de guarda confusos. Vêem uma mulher naquilo que consideram um carro de homem e os seus pequenos cérebros mandam‑lhes atacar, porque não compreendem.
O cenário é o elemento-chave e funciona ao contrário. Enquanto conduzia até à casa de um amigo, tive de enfiar o Range Rover numa sebe porque um Toyota Prius cortou uma curva, em sentido contrário, enquanto se deslocava a um milhão de quilómetros por hora. Ao volante estava um homem de 60 anos, com uma expressão ameaçadora. Já reparei que isto acontece muito com condutores de Prius. Como sabem que o seu híbrido é visto por muitos como carro de senhora, os homens que o conduzem querem refutar isto ao conduzir com um grau de agressão reservado para tripulações de tanques. Deverei então partir do princípio que os Toyota Prius que encontrar vão tentar abalroar‑me?
Resumindo e concluindo, penso que o exame de condução não é suficientemente abrangente. Após a parte fácil de saber conduzir um carro em segurança, o instruendo deve concluir um curso de psicologia de quatro anos.

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